Ultimamente o que mais tenho escutado é um grito
Mas não qualquer grito
É o meu próprio grito
Se debatendo do ladro de dentro
Se descabelando calado
Buscando uma forma de gritar pra fora
Esse grito mudo me diz muito
Me diz sobre a falta de paciência pra uma porção de coisas, pessoas e situações
Me diz sobre não me encaixar mais em lugares que já foram confortáveis
Me diz sobre as expectativas que eu incansável e inutilmente busco atender
Esse grito me diz sobre uma ira que vem não sei de onde e quer sair não sei pra quê
Ele diz também que se eu deixar sair as coisas ruirão num instante
Diz sobre coisas que não tem mais volta
Diz sobre uma maré de choro incessavel
O grito, a seu modo calado mais eloquente
Me questiona sem piedade
E não me dá nenhuma resposta satisfatória
Gritando no meu ouvido as coisas que eu não disse
E ele tá cansado
Como uma criança que chorou à noite toda
Está pedindo fôlego pra aguentar mais um pouco
É um grito que sente sede
Há momentos em que ele é tão calado que dá desespero
Em que é tão baixo que ensurdece
Há momentos em que tudo que ele representa é o vazio
Soprando pra longe as minhas certezas...